quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Amor de passarinho

Desde que mandei colocar na minha janela uns vasos de gerânio, eles começaram a aparecer. Dependurei ali um bebedouro, desses para beija-flor, mas são de outra espécie os que aparecem todas as manhãs e se fartam de água açucarada, na maior algazarra. Pude observar então que um deles só vem quando os demais já se foram. Vem todas as manhãs. Sei que é ele e não outro por um pormenor que o distingue dos demais: só tem uma perna. Não é todo dia que costuma aparecer mais de um passarinho com uma perna só. (...)

Outro dia o mencionei numa conversa com Otto Lara Resende, pelo telefone, justamente no instante do seu show matinal. Apesar de ter alma de passarinho, o Otto não acreditou em sua existência, preferindo concluir que eu já estivesse bebendo, àquela hora da manhã. (...)

Às vezes tenho a impressão de que tudo que ele faz é para atrair minha atenção e me distrair do trabalho, a dizer que deixe de me afligir com palavras e de me sentir incompleto como se me faltasse uma perna: passe a viver como ele, é tão fácil, basta sacudir as asas e sair voando pela janela...

Fernando Sabino in "A volta por cima"

Um comentário:

  1. Puxa, que belo texto, uma verdadeira poesia mesmo e me fez tão bem... É bom ouvir-ler coisas assim...
    Bjos
    Bom dia!
    Leandro

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Como num sarau, quem chega vai sentando entre almofadas, sofás e banquinhos. Traz seu violão ou um petisco, declama a sua poesia, lê seu texto, ouve, e fala.
Vai, então. Agora é a tua vez...

 
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